A aldeia mais a Norte tem uma “banda sonora”

Peça musical do compositor Manuel Brásio para Cevide, inspirada em cartas de antigos emigrantes que foram a salto para França.

Uma visita ao marco fronteiriço n.º 1 de Portugal, em Cevide, Melgaço, pode a partir de agora ser acompanhada por uma “banda sonora”. No local, na aldeia mais a Norte do país, foi colocada este sábado uma placa com o QR Code, que dá acesso a uma peça musical da autoria de Manuel Brásio, com pouco mais de seis minutos e que apenas pode ser escutada ali.

A música “Au revoir” (Adeus) é inspirada em três cartas escritas por emigrantes daquela zona que foram a salto (de forma clandestina) para França, nos anos 50 do século passado, e fala de saudade, espera, incerteza, medo e de falta de liberdade. E evoca aqueles que deixam a terra, querem voltar e não podem.

“Até certo ponto não é assim tão longe daquilo que temos hoje. A malta continua a ter uma necessidade muito grande de sair para ter uma qualidade de vida melhor. Eu sou de Viana e sinto isso. Sou forçado a sair da minha terra para fazer aquilo que faço”, explicou o compositor, performer e professor Manuel Brásio, criador daquela peça musical, no âmbito do projeto “Sons de Bolso”, com produção da associação Interferência e apoio do JN.

Em dezembro, foi lançada uma outra intitulada “Bachs zeit ist die allerbeste zeit”, de Rui Penha, no Mosteiro de Tibães, em Braga. Com o mesmo conceito serão ainda criadas mais duas obras. “História de quadrados e círculos”, de José Tiago Batista, que será apresentada em fevereiro na Estação Arqueológica do Freixo, em Marco de Canaveses, e “Aqui, que jaz neste ar”, de Nuno da Rocha, em março, no Museu Militar do Porto.

“A ideia é trazer música para sítios, quase como estátuas. Só podem ser ouvidas no local. No fundo, é trazer pessoas e contribuir para o crescimento dos circuitos [turísticos]”, refere Manuel Brásio.

O presidente da Câmara de Melgaço, Manoel Batista, que hoje ouviu pela primeira vez “Au revoir”, enalteceu a criação, pela “evocação dos que tiveram de partir e estão longe”. “Ainda hoje temos um Melgaço fora do território, maior do que o que está cá do ponto de vista de população. Somos capazes de ter em Paris quase tanta gente como temos aqui”, lembrou, considerando “extraordinária” a música concebida para o marco nº1 de Portugal.

Para ouvir no local os criadores recomendam um telemóvel com dados móveis e fones.

Fonte: Jornal de Notícias | Ana Peixoto Fernandes, 15 de janeiro de 2022
Foto: Rui Manuel Fonseca /Global Imagens

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Manuel Brásio
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