Ode Marítima – Cantata Coral Sinfónica de Nuno Corte-Real,
6 de dezembro | 20:00
Grande Auditório do Centro Cultural de Belém
O poema épico Ode Marítima, de Fernando Pessoa (heterónimo Álvaro de Campos), é sem dúvida um dos expoentes máximos da poesia portuguesa de todos os tempos. A ação deste longo e dramático poema, comparável aos grandes poemas de Homero, desenrola-se num cais de Lisboa, por entre navios de todos os portes que vão entrando e saindo, e com eles vai viajando a imaginação do eu-narrador, pretexto para os mais radicais pensamentos, ora de ternura sincera, amorosa, ora da mais brutal violência e imoralidade. Por entre esta quase esquizofrénica dinâmica emocional, o ritmo das palavras atinge graus de intensidade díspares, oferecendo ao leitor/ouvinte uma extrema variedade de estados de espírito, com partes lentas e outras de grande frenesim com um elevado débito de palavras, muitas vezes apenas enumerativas sem qualquer desenvolvimento dramático. A Cantata Coral Sinfónica que aqui se apresenta assenta a sua estrutura musical justamente nesta amplitude rítmica ondulante, seguindo a ordem temporal do poema, numa alternância contínua e gradativa entre blocos com música estática e outros com música vertiginosa, entre passagens de cores corais/sinfónicas suaves e ternas, com outras de grande amplitude sonora e violentas.
A alusão ao passado e à infância do eu-narrador vivida nas ruas de Lisboa, com a sua intrínseca poesia popular, deu espaço à utilização da guitarra portuguesa como instrumento solista; completam os solistas da Cantata, um barítono, que encarna alguns dos sentimentos mais intensos da narração e outras singularidades do poema, como a voz do antiquíssimo pirata, Jim Barns, e um violoncelo, que funciona como a manifestação exterior da voz interior do eu-narrador, lírica, expressiva, melancólica e de grande nostalgia.
Já a voz do eu-narrador é feita por um ator cujas falas estão em completa sincronização com a música, com entradas absolutamente rigorosas e ritmos de narração também controlados pelo próprio ritmo da música; dir-se-ia que este ator é, na realidade, mais um músico solista, e que o seu instrumento são as palavras do poeta, em todo o seu dinamismo e esplendor dramáticos.
Completam os recursos instrumentais e vocais, dois coros, sendo um sinfónico e outro de câmara, e uma orquestra de cariz clássico, mas com algumas extensões tímbricas, nomeadamente com o uso de uma extensa panóplia de instrumentos de percussão, harpa, piano, celesta e sintetizador. A grande dimensão do texto da Ode Marítima não permite que seja apresentado na sua totalidade para efeitos musicais – resultaria, talvez e apenas, num mero acompanhamento musical como pano de fundo para a recitação do poema, que em geral dura cerca de uma hora e dez minutos a ser recitado na sua versão completa; ao invés, optou-se por uma seleção dramaticamente rigorosa e cirúrgica do texto poético, conservando o pathos e o ritmo da obra, assim como a sua estrutura, permitindo desta forma que a música seja o verdadeiro motor da narração, quer dizer, que a narração seja percebida aqui como parte integrante da música.
Ficha artística:
Orquestra Filarmonia das Beiras
Coro do Festival de Verão
Direção musical Paulo Lourenço
Solistas:
Barítono André Baleiro
Violoncelo Filipe Quaresma
Guitarra portuguesa Miguel Amaral
Narrador Vítor D’Andrade
Iniciativa ÉGIDE – Associação Portuguesa das Artes
Bilhetes à venda em ticketline.pt