Idiota, a performance criada pela bailarina e coreógrafa Marlene Monteiro Freitas em 2022, vai ter a sua estreia nacional no Ciclo Dança Não Dança da Fundação Gulbenkian.
Fundação Calouste Gulbenkian, Escadaria Principal
9 e 10 de janeiro | 20h00
Idiota nasce da pintura. É tela que se tornou caixa. Translúcida, refletora e permeável, é simultaneamente vitrine e espelho. É uma caixa multifacetada: caixa-casa, caixa-plantação, espaço de recolhimento e de ultra exposição, caixa-prisão, caixa-festa, caixa-tenda, caixa-boia, uma cabine telefónica, o terminal de um aeroporto, caixa-imune, caixa-impune, caixa-camarim. É também um teatro portátil e, portanto, aberta a todas as figuras que queiram aí ser projetadas.
Idiota é ainda o nome da figura que se esgueirou deliberadamente para dentro desta caixa, com o intuito de espiar uma criatura, Élpis…
O mito de Pandora surgiu provavelmente como resposta à velha questão: porque é que as pessoas adoecem e morrem? Porque é que as coisas más acontecem?
Em Idiota, a artista dialoga com a obra do pintor Alex da Silva (1974-2019), também cabo-verdiano e dedicado a representar “criaturas” em transfiguração. Monteiro Freitas coloca-se dentro de uma caixa que é, ao mesmo tempo, lugar de aprisionamento e libertação. Neste espaço de imaginação cruzam-se as memórias do mundo, desde a violência das Exposições Universais, onde os indígenas eram exibidos à curiosidade ocidental, à fantasia do circo e da ilusão.