O virtuoso do violino que prefere a emoção à técnica

É um dos mais aclamados violinistas da atualidade, mas rejeita sinais de acomodamento. A comemorar 20 anos de parceria artística com o pianista João Paulo Santos, o músico Bruno Monteiro acaba de editar o seu 24º disco, “Violin sonatas”, que reúne obras de Freitas Branco, Ravel e Villa-Lobos.

A extensão e a valia do percurso artístico de Bruno Monteiro poderiam indiciar que se está na presença de um veterano. Uma suspeita, todavia, prontamente negada, tanto pelo cartão do cidadão como pelo entusiasmo que evidencia para enfrentar “pelo menos mais de 20 anos de carreira pela frente”.

Para encontrarmos os primórdios do seu percurso musical temos que recuar até aos seis anos, quando se iniciou na aprendizagem do piano. O ponto de viragem aconteceu cinco anos depois. Ao tomar contacto pela primeira vez com o violino, sentiu que tinha encontrado o instrumento certo. Dois anos depois já estava a apresentar-se em recitais a solo e, com apenas 16, aventurou-se pelos Estados Unidos da América (primeiro em Chicago e de seguida em Nova Iorque), com bolsas atribuídas pela Gulbenkian e pelo Centro Nacional de Cultura.

Pelos sete anos que viveu nos ‘States’ ou talvez pelo desgaste das viagens constantes para os concertos e gravações, garante que não pensa voltar a emigrar. “Hoje, felizmente, não precisamos viver numa metrópole para termos uma carreira. Podemos até viver num sítio recôndito, desde que estejamos ligados”, expressa.
A expressão internacional do seu trabalho parece ir ao encontro da sua visão.

Com recitais em perto de 20 países (incluindo Áustria, Bulgária, Filipinas, Malásia ou Coreia do Sul), tem visto órgãos de comunicação social prestigiados renderem-se ao seu trabalho. A “Strad” destacou a sua forma de tocar “ardente e heroica”, a “Pizzicato” classificou as suas atuações como “tecnicamente e expressivamente extraordinárias” e a “Fanfare Magazine” descreveu-o como tendo um “som de ouro polido”.

A todos estes encómios responde com “a exigência de sempre”. No entanto, os anos e a acumulação de experiência trouxeram algumas mudanças. “Hoje, a cabeça é outra. Estou melhor agora, porque isto é um processo evolutivo”.

O músico completo que sempre aspirou ser deve aliar, no seu ponto de vista, a emoção à técnica. Ainda assim, se fosse tentado a escolher, não teria dúvidas: “Atribuo uma importância ligeiramente superior à emoção. Talvez 51%. O restante é para a parte técnica”.


O gosto de “recuperar compositores”


Ao cabo de tantos anos de trabalho próximo com João Paulo Santos, o conhecimento mútuo dispensa até muitas palavras. Menos uma, que afirma definir toda a relação: o respeito. “Essa é a primeira condição e a única fundamental. Mas claro que termos gostos e ideias musicais parecidas também ajuda”, acrescenta.
Para assinalar as duas décadas de colaboração contínua, o duo acabou de editar por uma etiqueta belga “Violin sonatas”, disco que reúne obras de Luís de Freitas Branco, Maurice Ravel e Heitor Villa-Lobos.

A escolha de três autores de proveniências tão díspares é uma síntese feliz do repertório habitual de Bruno Monteiro. Conciliar a interpretação de obras de compositores que integram o cânone com os trabalhos de autores portugueses ou mal conhecidos fora de portas sempre foi uma preocupação do violinista. Embora reconheça que “seria mais cómodo” reduzir o leque de escolha apenas a Bach, Mozart, Beethoven e pouco mais, o artista, a residir há longos anos no concelho de Santa Maria da Feira, confessa o seu gosto particular por “recuperar compositores que, por um ou outro motivo, foram caindo no esquecimento”.

Essa vontade de dar a conhecer ao espectador peças menos divulgadas obriga-o a entregar-se a fundo às tarefas de pesquisa e investigação, que diz abrir “com enorme gosto”.

Não menor é o seu empenho em divulgar compositores portugueses. “Muitas vezes, no final de algum concerto no estrangeiro, há espectadores que vêm ter comigo a manifestar o seu agrado perante alguma obra de um compositor como Freitas Branco ou Lopes-Graça”, recorda, mostrando-se satisfeito pela forma como a nova geração de músicos nacionais, ao contrário do que acontecia com a anterior, mostra orgulho pelo património musical do seu país.

Por Sérgio Almeida, in Jornal de Notícias | 2 de abril de 2022
Foto: Tony Dias/Global Imagens

Críticas de Imprensa Internacional

http://www.revistamusical.cat/critica/monteiro-i-santos-dos-artistes-portuguesos-al-servei-de-ravel-villa-lobos-i-de-freitas-branco/ (Barcelona)

https://www.pizzicato.lu/spannende-aufnahmen-von-bruno-monteiro/ (Luxemburgo)

http://www.musicweb-international.com/classrev/2022/May/Freitas-Branco-violin-KTC1750.htm (Londres)

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Bruno Monteiro
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